Lembro-me de quando era pequena, na casa de meus pais, tínhamos uma árvore de plástico que imitava bem um pinheiro natural e que era enfeitada com bolas de vidro colorido, algumas com arabescos dourados e que eram lindas, principalmente a que ficava no topo da árvore! Tudo era guardado com muito cuidado. As bolas eram todas embrulhadas em papel de seda e colocadas em caixas de papelão com divisórias. Montar e desmontar a árvore era mesmo um ritual, que minha mãe só deixava participar depois de muita recomendação.
Com o passar dos anos, meus irmãos e eu crescemos, as árvores mudaram, os enfeites também, mas, na época do Natal, o ritual era mantido.
Quando fui morar sozinha, mantive o mesmo costume. Mesmo tendo o Estopa em casa, quase não tinha grandes problemas com a árvore. Nos primeiros dias, é claro, a árvore sofria algumas mudanças e um ou outro enfeite criava vida durante a madrugada, por causa da curiosidade e o espírito brincalhão que é comum a todo gato, mas depois de um tempo ele se acostumava com a nova peça de decoração e deixava a árvore com seus enfeites em paz.
Então, o ritual continuou.
Só que depois de uns anos, a Faísca chegou, e na época das festas ela ainda era filhote e bastante bagunceira. Na minha frente ela era bem comportada,mas quando eu ia dormir ou saía de casa a Faísca literalmente se acendia e junto com o Estopa a coisa pegava fogo!
Dias antes do Natal, lá fui eu para o meu ritual. Justamente no ano anterior tinha comprado uma árvore bem legal e estava ansiosa para remontá-la. Sabiamente, a maioria dos enfeites era a prova de gatos (eram de plástico ou de madeira). Mas justo nesse ano, não resisti e comprei umas mini bolinhas de vidro super coloridas, que achei que dariam um toque especial à minha árvore. Apostei numa árvore bem colorida e cheia de enfeites!
Enquanto montava a árvore, duas criaturas observavam meus movimentos com curiosidade, mas mantinham uma certa distância - disfarçando, para não demonstrar muito interesse (bem típico de gato!).
Terminei a montagem, arrumei alguns enfeites pela casa e na porta de entrada e fui me aprontar para o trabalho. Os gatos foram dormir. Tudo estava bem tranqüilo.
Volto do trabalho, quando abro a porta da sala, uma surpresa! Parecia que havia passado um tornado por lá! A árvore estava tombada no meio da sala, toda distorcida e havia enfeites espalhados por toda casa. Na hora fiquei muito brava, mas depois fiquei triste por ter perdido a farra! Imagino a cena... deve ter sido muito divertido!

E o que parece que fez mais sucesso?!?!? As bolinhas de vidro, é claro! Pois as encontrei nos lugares mais improváveis!!! Passei um tempo recolhendo os enfeites e remontando a árvore. Nem é preciso dizer que a mesma coisa aconteceu várias e várias vezes – era só eu ir dormir ou sair de casa para a árvore aparecer tombada no meio da sala e os enfeites criarem vida pela casa toda! Nunca tinha refeito o ritual tantas vezes!
Quem começava a bagunça?!? Não sei, mas imagino que fosse a Faísca..., mas o Estopa também não era santo e gostava de uma boa farra!!!
Conclusão: Não deu pra esperar as festas, decidi desmontar a árvore, não só por ter que repetir o ritual pelo menos duas vezes ao dia, mas também porque a brincadeira estava ficando perigosa, pois algumas bolinhas se quebravam durante a farra e algum gato poderia acabar machucado. Acho que foi meu primeiro ano sem árvore de Natal!!!
No outro ano, como a Faísca já estava mais “madura” tentei montar a árvore novamente, achando que ela iria se comportar melhor. Mas, enganei-me! Na minha primeira ausência, encontro a árvore no outro canto da sala, quase totalmente sem enfeites!
Quem ficou contente foi a minha faxineira, que ganhou uma árvore praticamente nova!! Só fiquei com alguns enfeites que espalhava em pontos estratégicos da casa. As bolinhas de vidro?!? Sobraram poucas, mas foram embora junto com a árvore.